28 de maio de 2013

Corpus Delicti por Juli Zeh

Autora: Juli Zeh
Editora: Record
ISBN: 9788501094209
Ano: 2013
Páginas: 256
Classificação: 
Num futuro não muito distante, a nova ordem liberta toda a população de um país do maior fardo humano: a doença. Extinta essa mácula, a saúde emerge como valor absoluto e ultrapassa a esfera física. Tratam-se agora também de uma virtude espiritual, política e social. Funda-se uma nova sociedade, asséptica, totalmente regida e controlada pelo método – o “sistema imunológico” da nação -, única força capaz de perpetuar o estado de suposta perfeição. O que haveria de condenável num sistema legitimado pela ciência, que livra os cidadãos da dor? Não seria esse o melhor dos mundos? Que mal pode existir em um sistema totalmente amparado pelo conhecimento científico, que garante aos homens a mais perfeita saúde física? Para a bióloga Mia Holl, o Método assegurava uma existência automática, livre de conflitos, até tornar-se o motivo da condenação de Moritz, seu jovem irmão idealista, por um crime que ele diz não ter cometido.
Nesta ficção científica sofisticada, que foi comparada ao clássico 1984, de George Orwell, Juli Zeh discute os limites da intervenção do Estado na vida dos indivíduos.

Imaginem um mundo que vive constantemente em guerras; onde conceitos como nação, religião e família perderam sua importância rapidamente; os valores estavam em decadência e perdera-se completamente toda e qualquer segurança. Todos começaram a temer uns aos outros, com o medo regendo a vida dos indivíduos. As consequências para isso foram as quedas na taxa de natalidade, o aumento de doenças como o estresse, assassinatos em massa e terrorismo. 

Você pode achar que eu estava descrevendo apenas o mundo que vivemos hoje. Bem, de certa forma, você esta absolutamente correto, mas a descrição acima é um resumo de como, e por quê, o mundo deixou de ser um caos e passou a ser controlado pelo Método, um novo sistema de governo onde o indivíduo é altamente controlado e monitorado a fim de extinguir qualquer possibilidade de doença, física ou mental, e aproveitar ao máximo o potencial humano. Tudo nesse novo mundo é regido pela lógica, e o que a lógica diz? Ela diz, por exemplo,  que não é muito inteligente e saudável trocar saliva com uma outra pessoa durante o ato de um beijo. Afinal, a saliva contém milhares de germes e bactérias nocivas a sua saúde bucal. Isso é um exemplo bobo, porém demonstra muito bem como passou a funcionar o cérebro das pessoas. Agora utilize essa lógica para tudo que esta a sua volta e você compreenderá bem como é o mundo que Mia Holl vive. 

Mia Holl é uma bióloga brilhante, que já nasceu em um mundo dominado pelo sistema do Método. Ela nunca experimentou uma doença ou uma dor física. Ela possui um chip implantado sob a pele no braço direito, que envia as informações médicas para o Método, e precisa seguir a risca uma série de protocolos de exames regulares, bem como se alimentar conforme as recomendações médicas e fazer exercícios diários. 
Tudo neste mundo é feito para promover a saúde do indivíduo e sua longevidade. Não existem bactérias. Você precisa usar um protetor bucal para não transmitir doenças relacionadas a saúde bucal. Até a escolha de um parceiro sexual esta ligado ao Método. Assim como uma agência casamenteira, o Método escolhe uma parceira para você procriar, de acordo com seu histórico médico, sua genética e etc...

O sistema jurídico do século XX que era basicamente para condenar criminosos, como estupradores, ladrões e falsários, ganha uma nova vertente: julgar aqueles que vão contra as normas sanitárias impostas pelo método, ou seja, aquelas pessoas que querem ter o direito de ficarem doentes. Que são descuidadas com a saúde. 

Tudo ia muito bem, até que o irmão de Mia é condenado injustamente por esse novo sistema judicial, após ser acusado de matar e violentar uma possível parceira sexual. 
Mortiz jura que nunca tocou na mulher, mas seus sêmen é encontrado no corpo, e em um sistema onde a lógica impera, um teste de DNA que dá 99% de chances de acerto é muito mais confiável do que a palavra de um homem. 

Sem conseguir comprovar sua inocência, Moritz decide tirar a própria vida, pois como ele mesmo afirma no livro, "a vida é uma oferta que também se pode recusar".  Mia sente-se sozinha, passando seus dias e noites trancada em seu apartamento com a amante ideal, uma mulher que Moritz criou e que deixa como último presente para Mia antes de morrer. Mas peraí?! Ficar trancada em um apartamento, com uma mulher que só você consegue ver, sem seguir a dieta e os exercícios impostos pelo Método? 
Isso é claramente um caso de depressão com agravamento para esquizofrenia!
Isso indica que ela esta doente, certo? Mas... doenças não eram proibidas? Acho que Mia tem um problema... que vai ficar muito pior quando ela descobrir que o irmão dela era inocente e foi condenado injustamente pelo sistema.

O livro é muito tenso, denso e assutador. Tenso, pois você consegue se colocar no lugar de Mia, vivendo nessa sociedade totalmente desinfetada e extremamente racional. Convenhamos, com os avanços das tecnologias e da medicina, não é nenhuma novidade que a daqui a poucos anos a medicina pode estar tão avançada que o ser humano não terá mais que se preocupar com diversas doenças e passará a viver muito melhor e por mais tempo.

Denso, pois como a sociedade é guiada pela razão, os diálogos são muito racionais. Cada diálogo parece uma manobra de xadrez. Nada ali é dito por acaso. Estamos acostumados a ter um diálogo, onde a ideia é bem explícita, porém, neste livro, cada frase esta carregada de sentidos e de forma rebuscada, ou seja, seguindo à risca a norma culta da língua.
Ex:. Qual é a segunda pessoa do singular? Tu. Logo, quando os personagens querem falar na segunda pessoa, eles utilizam o pronome referente a esta pessoa, de acordo com as regras da gramática portuguesa!
"- Tu não sabes de nada Moritz! Tu és um sonhador!"
Esse é um exemplo bobo, mas é mais ou menos por ai a coisa.

É assustador, pois se pararmos para prestar atenção no que esta sendo dito no livro - que os governos não mudam, o que muda é como as pessoas se submetem a eles, e que um ser humano sem liberdade não tem por que viver - vemos que é tudo verdade; vemos que não estamos muito longe de chegar a realidade apresentada no livro, só que de maneira menos apocalíptica e mais ideológica, mas não menos assustadora. Afinal, será que é tão impossível assim que no futuro o ser humano passe a idolatrar o corpo como algo sagrado e que deva ser preservado a todo custo e por conta disso, ele abra mão da sua própria liberdade?

Ah é... eu esqueci... nós já fazemos isso quando vivemos em dieta quando não precisamos (apenas para perder alguns quilinhos, né?); quando malhamos pra ficar sarados e não pra ter saúde; tudo isso para nos enquadrarmos no modelo de beleza que a sociedade impõe.

O final é completamente inesperado. Eu fiquei pasma com o desfecho e já adianto que se a autora quiser, tem como fazer uma continuação.

Se você gosta de distopias e esta disposto a algo completamente diferente do que você leu até agora... esse livro é feito pra você. 

10 comentários

  1. Não conhecia o livro e gostei bastante!!
    Estou com um pouco de ressaca de distopias no momento mas fiquei bem interessada e pretendo ler sim...
    Talvez a salvação de um mundo tão violento como o nosso seja que o seres humanos sejam controlados completamente pata se ter uma vida melhor!!
    Beijos

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  2. Não conhecia o livro, mas adorei a temática. Durante a resenha fiquei pensando em George Orwell, não só por ser citado na sinopse, mas como essas histórias não estão tão longe da realidade.
    Pretendo com certeza lê-lo.

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  3. Eu gosto bastante de distopias, e achei essa bem interessante. Fico imaginando como seria viver em uma sociedade como essa. Por um lado é legal, pois nunca iríamos adoecer nem fisicamente, nem mentalmente. Por outro, deve ser extremamente complicado viver em um lugar em que beijar na boca é praticamente proibido. Enfim, acho que essa história tem muito pano pra manga, e a trama deve ser bem interessante.
    Fiquei bem curioso pra ler.

    @_Dom_Dom

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  4. Eu gosto bastante de distopias e não conhecia esse livro ainda. Gostei da resenha. :)

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  5. Adoro distopias e fiquei mega curiosa pelo livro!
    Tinha visto ele no catalogo, mas preferi outro ahahaha
    Espero não me arrepender
    Adorei a resenha!

    Bjokas!

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  6. Esse livro ainda não conhecia =D
    Valeu a indicação e resenha.

    Bjs

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  7. Olá , seu blog é muito bom,
    e desde já quero dar-lhe os parabéns, meu nome é:
    António Batalha, e quero deixar-lhe um convite,
    se quiser fazer parte de meus amigos virtuais no
    blog Peregrino E Servo ficarei muito radiante.
    Claro que irei retribuir seguindo também seu blog.
    Deixo-lhe a minha bênção.

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  8. Oiie
    Eu gosto bastante de distopia..
    Comecei a ler e me apaixonei por esse estilo..
    pelo o q li na sua resenha, curti bastante o enredo, só faltou um pouco de romance...
    Adorei a dica!

    bjs

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  9. esse livro é bem interessante. Já vi coisas dele antes boas assim, e de novo aqui. Dá vontade de conferi, tem uma história bem instigante, gostosa de ler pelo visto.

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  10. UAU!
    Sem palavras com a resenha desse livro!
    É bem parecido com 1984 mesmo... Brilhante!
    Já adicionei ao Skoob como desejado.

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