10 de junho de 2015

Toda Luz que Não Podemos Ver por Anthony Doerr

Autor: Anthony Doerr
Editora: Intrínseca
Ano: 2015
ISBN: 9788580576979
Páginas: 528
Classificação: 
Marie-Laure vive em Paris, perto do Museu de História Natural, onde seu pai é o chaveiro responsável por cuidar de milhares de fechaduras. Quando a menina fica cega, aos seis anos, o pai constrói uma maquete em miniatura do bairro onde moram para que ela seja capaz de memorizar os caminhos. Na ocupação nazista em Paris, pai e filha fogem para a cidade de Saint-Malo e levam consigo o que talvez seja o mais valioso tesouro do museu. Em uma região de minas na Alemanha, o órfão Werner cresce com a irmã mais nova, encantado pelo rádio que certo dia encontram em uma pilha de lixo. Com a prática, acaba se tornando especialista no aparelho, talento que lhe vale uma vaga em uma escola nazista e, logo depois, uma missão especial: descobrir a fonte das transmissões de rádio responsáveis pela chegada dos Aliados na Normandia. Cada vez mais consciente dos custos humanos de seu trabalho, o rapaz é enviado então para Saint-Malo, onde seu caminho cruza o de Marie-Laure, enquanto ambos tentam sobreviver à Segunda Guerra Mundial.Uma história arrebatadora contada de forma fascinante. Com incrível habilidade para combinar lirismo e uma observação atenta dos horrores da guerra, o premiado autor Anthony Doerr constrói, em Toda luz que não podemos ver, um tocante romance sobre o que há além do mundo visível.

Este não é um livro de romance com o pano de fundo da segunda guerra...
Este não é um livro repleto de ação e estratégias como vemos nos filmes e livros que abordam a segunda guerra...
Este é um livro que irá te fazer vivenciar a segunda guerra pelos olhos de dois adolescentes. 

Nossa história começa no dia D, quando os EUA e os ingleses desembarcaram nas praias da Normandia para finalmente lutarem contra as tropas nazistas que haviam tomado a França. Ou seja, nós começamos a leitura quase que pelo final...

Marie Laure é uma jovem francesa que fica cega aos 7 anos. Seu pai, é chaveiro chefe do Museu de História Natural de Paris, e sendo extremamente habilidoso, ele constrói uma maquete da cidade para ensinar a filha a andar pelas ruas. Porém, a guerra explode, a França é invadida e eles precisam fugir. Se fugir tendo bons olhos já é complicado, imagina com alguém cego. 
Eles acabam indo se refugiar Em Saint Malo, uma cidade no litoral da França, que é onde se passará a maior parte da história. 

Werner é um menino alemão órfão, que vive em um orfanato com sua irmã mais nova Jutta. Ele sabe que o destino dele, sendo órfão, é acabar trabalhando nas minas de carvão, porém ele morre de medo desse destino. Seu pai morreu naquelas minas. 

Um dia ele encontra um rádio e sendo muito curioso, consegue desmonta-lo e conserta-lo. Logo, sua curiosidade fará com que ele aprenda tudo sobre rádios e fique conhecido na região. Afinal, na época da segunda guerra, os rádios eram a diversão e o meio de comunicação das pessoas. Suas habilidades chegam aos ouvidos de um oficial nazista que o envia para uma escola que prepara a juventude nazista tanto para o combate, quanto para a pesquisa. 
Parece que as preces de Werner são atendidas. Ele não irá para as minas de carvão, mas não quer dizer que ele foi para um lugar melhor...

A história é intercalada entre Marie Laure e Werner, sempre com capítulos bem curtos, o que dá ritmo a leitura. O autor também intercala entre passado e presente, juntando em blocos maiores separados pelas datas. Então você vai lendo o que esta acontecendo com os dois personagens principais no dia D, mas também vai descobrindo aos poucos como eles foram parar lá e como eles viveram os primeiros anos da guerra. 


A leitura não é nem um pouco arrastada apesar das mais de 500 páginas do livro. Enquanto eu lia, eu suplicava para que o livro não acabasse; e quando acabou eu queria imediatamente começar tudo de novo, pois não queria me separar desses personagens tão emocionantes e maravilhosos. 


O autor consegue fazer você imergir completamente na história e na vida dos personagens, sem ser detalhista demais. Esse não é um livro cheio de sequências de ação, ou com um romance arrebatador entre os personagens. 
Não. 
Esse é um livro que vai tocar o seu coração de tal modo que você irá terminar o livro aos prantos e passará horas pensando sobre tudo que aconteceu na Segunda Guerra Mundial. A narrativa é muito sutil... tudo é abordado muito delicadamente, nada de passagens sangrentas. Mas essa sutileza não esconde a essência e a força dessa história. Nem um pouco...
Você ficará pensando nos personagens durante dias. Você irá parar e pensar...

Quantos Werner existiram? 

Quantos jovens nascidos na Alemanha nessa época acabaram indo parar nos exércitos de Hitler porque era a única forma de sair da vida miserável e sem perspectiva em que viviam? Quantos perceberam, já tarde demais, que os ideais que os nazistas pregavam não eram corretos, mas não tinham outra escolha senão permanecerem firmes e calados, do contrário eles é que seriam mortos? 
Quantos sobreviveram aos horrores da guerra? Quantos só queriam voltar pra casa? 

Quantas Marie-Laure existiram? 

Quantas meninas se viram presas no meio do fogo cruzado de uma guerra, escondidas em um porão, rezando todos os dias por suas vidas e para que elas não fossem descobertas por nenhum alemão, pois eles poderiam estrupa-la e/ou mata-la?
Quantas não tiveram suas preces atendidas? 
Quantas viram um a um seus parentes desaparecem; sua cidade natal ser completamente destruída? 

Quantos Frederick existiram? (amigo de Werner) 

Quantos jovens alemães foram parar na juventude nazista apenas porque não tinham escolha? Por que precisavam provar algo aos pais ou a si mesmos? E quantos acabaram sendo torturados e mortos por oficiais nazistas porque não se enquadravam no padrão ariano? Não eram fortes o suficiente? Ou tomaram a coragem de dizer não em uma época onde você deveria seguir cegamente as ordens de seus oficiais? Quantos tiveram essa coragem e pagaram por ela? 


"Seu problema, Werner - diz Frederick -, é que você ainda acredita que a sua vida lhe pertence." - pág 227

Eu poderia passar horas descrevendo como vários personagens desse livro mostram que os horrores da guerra vão muito além das chagas que nunca se cicatrizarão devido a perda de um ente querido; ou da destruição de uma cidade inteira; a dizimação de um povo em campos de concentração...
Os horrores da guerra ficam entranhados em cada um que viveu isso, e esse autor consegue fazer com que você vivencie de tal maneira essas coisas, que esses horrores acabam entranhados em você também. 

É fazer com que você fique com um nó na garganta a cada página conforme a história vai se desenvolvendo, pois você sabe que aquilo que você esta lendo... aquilo que você esta sentindo com o personagem, realmente aconteceu. E a tristeza que isso te causa... não tem como explicar. 


É você se sentir um merda. 


É você perceber que não dá valor as coisas pequenas e que elas é que realmente importam. 
Quantas pessoas ficaram dias sem comer escondidas? Quantas viram em uma comida enlatada a única salvação no meio do caos e se deliciaram com essa pequena lata, transformando esse momento em, provavelmente, um dos únicos bons momentos da experiência de guerra? Quantas pessoas uma única lata de alimento conseguiu alimentar em uma guerra?

Algumas pessoas podem ler esta história e ver apenas uma história sobre uma garota francesa cega e um menino alemão das tropas de Hitler que em algum momento terão suas vidas interligadas devido a guerra. 
Mas eu espero, de coração, que muitas pessoas ao lerem essa história percebam que ela poderia ser a história dos nossos avós,  e que poderia ser a sua história também. Quantas crianças e adolescentes vivenciam isso hoje no Oriente Médio? 

Por baixo da narrativa existe um oceano de sentimentos, de agonias e o retrato de uma época que marcou pra sempre milhares de pessoas e a história mundial. Durante a leitura desse livro, torna-se impossível não se imaginar no lugar deles e não terminar a leitura com lágrimas nos olhos. 



"Quando perdi a visão, Werner - continua ela - as pessoas disseram que eu era corajosa. Quando meu pai foi embora, as pessoas disseram que eu era corajosa. Mas não era coragem; eu não tinha escolha. Acordo todos os dias e vivo minha vida. Você não faz a mesma coisa?
- Não vivo minha vida há muitos anos. Mas hoje. Talvez hoje eu tenha vivido." - pág 468

Esse livro ganhou o prêmio Pultizier e está há semanas entre os top 10 de livros mais lidos/vendidos nos EUA. Vem ganhando elogios em todo mundo e eu garanto para vocês, que ele merece cada prêmio e cada elogio. 






11 comentários

  1. Senti sua emoção ao ler esse livro,só de ler sua resenha.
    Talvez somente agora eu tenha percebido o lado dos jovens alemães. Nunca parei para pensar que suas vidas não tenha sido exatamente fácil.
    Fiquei com muita vontade de ler.

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  2. Olá, Natália.
    Sua resenha me conquistou sem qualquer dificuldade. Eu adoro livros que se passam na segunda guerra, adoro livros com personagens que nos cativam e adoro ação. Esse livro tem tudo que eu gosto e que eu preciso.
    Sem dúvidas vou me maravilhar com a leitura tanto quanto você.

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  3. A capa desse livro é absolutamente linda. Gostei muito da história porque tem tudo o que me prenderia...a premissa é ótima e livros ambientados nas grandes guerras sempre me emocionam muito. Quero ler.

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  4. Se só a sua resenha já foi emocionante, imagino como deve ser o livro. Eu sempre gostei de narrativas que abordassem a Segunda Guerra justamente por fazer esses mesmos questionamentos que você fez. Quantos existiram daquela mesma forma, como eram seus dias, quantos ainda vivem assim em países que estão em guerra... Com certeza é uma leitura envolvente e marcante, e com certeza que pretendo fazê-la o mais breve possível. Linda resenha.
    Beijos.

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    1. É com certeza um dos livros mais emocionantes que eu li na vida Cecília. Vel muito à pena cada página dessa obra prima.

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  5. A Intrinseca, apresentou esse livro na turne e eu estou louca por ele, infelizmente ainda nao li...
    a historia e otima e a capa e linda. Parabens pela resenha...

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  6. Natália, que livro lindo e diferente.
    Quantas informações.
    Ele é diferente de tudo que já li ou pensei ler.
    Vendo ele por aí não imaginava a densidade da história e tão pouco que ele tinha tantas páginas.
    Não gosto do contexto da segunda guerra, mas fiquei bem interessada pela leitura.

    Lisossomos

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  7. Oi Natália, ele já está nos meus desejados, e já sei o quanto ficarei emocionada com a leitura. Livros assim, onde o enredo bem poderia ser nosso ou de algum conhecido, mexem muito comigo.
    Bjs, Rose.

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    1. Eu fiquei muito tocada com essa história. Não conseguia parar de chorar ao término da leitura.

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  8. Primeira resenha que leio sobre o livro e não esperava que fosse tão positiva. Não sabia da existência do livro e quando vi a sua nota com um coração, já comecei a ler a resenha com uma animação maior.
    Não sou muito fã de filmes e livros com as guerras mundiais de pano de fundo, acho que foi uma época tão cruel e me deixa realmente bem sensibilizada.
    O modo como descreveu a estória e ressaltou os protagonistas me deixou pelo menos curiosa quanto a vida deles nesse caos que é a guerra. Outro ponto que me animou é a narrativa alternada, isso torna a leitura muito mais fluida e gosto demais.
    Acho que mesmo sendo sobre a guerra, eu vou tentar ler e quem sabe gostar muito também.

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