As sete luas por Salustiano Souza

Autor: Salustiano Souza
Editora: Giostri
ISBN-10: 8581087426
Ano: 2015 
Páginas: 190
Classificação: 

As obras da Usina de Belo Monte, no Estado do Pará, Região Norte do Brasil, correm a todo vapor. Uma grande área de terra será inundada, provocando inúmeros prejuízos à natureza e aos povos indígenas da região. A recusa dos índios Kambebas, de saírem de suas terras ameaça a conclusão da obra. Ligados à questão da desocupação do espaço estão o militar Capitão Marcos, a bela Sofia e o ambicioso Jorge, cujos destinos se entrelaçam.

Se tem uma coisa que eu gosto, é quebrar a cara por ter um preconceito de um livro. Confesso que comecei a ler o livro com uma ideia pré-moldada e esperando um livro previsível. Nunca foi tão bom estar errado.

Vamos começar explicando um pouco do cenário do livro, já que a sinopse é bem curta. Prometo não comprometer sua leitura com spoiler. Em "As Sete Luas" vemos um cenário que se mistura com a realidade, fazendo um paralelo com o impasse que ocorreu para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no Pará, projeto que até hoje é discutido devido ao impacto social e ambiental. A trama principal é: Para prosseguir com as obras da Usina, é necessário que uma tribo indígena saia da região. Como esperado, o índios não querem abandonar as terras. Após um longo debate é proposta uma solução. Se um "homem branco" passar "sete luas" convivendo com a tribo e seguindo suas regras e costumes, ele irá decidir se a tribo deve ficar ou partir.

O primeiro ponto que eu gostaria de destacar é a narração do livro. Salustiano Souza já tem também em seu currículo o livro "O Eterno Barnes", e se você ler "As Sete Luas", assim como eu vai perceber que não se trata de uma obra inexperiente. Os diálogos do livro são bem desenvolvidos e nem um pouco forçados. Você lê o livro sentindo a preocupação do autor em tornar tudo o mais natural possível.

O desenvolvimento dos personagens também é muito bom. Se você perceber, o autor distribui cada personagem para um ponto de vista. Brilhante. Fica nítido que o autor, além de escrever um romance, está preocupado em mostrar todos os efeitos da construção também. Em alguns momentos eu achei que a reação dos personagens não condizia muito com o normal deles, o que desconstrói um pouco o perfil, mas são poucas as situações. Por exemplo, tem uma ocasião em que o Capitão Marcos está junto com a tribo e repara em algumas índias brincando com os filhos. Comovido com a cena, o capitão "chora de soluçar"! Talvez eu citando assim, isoladamente, não pareça ser nada demais, mas a medida que você vai lendo o livro, na sua cabeça você monta o perfil daquele personagem. Quando li esse trecho, aquilo me pareceu muito fora do que seria uma reação normal dele.

Eu particularmente não consegui me apegar ao protagonista da história, Capitão Marcos. Mas foi um preço a se pagar tendo em vista um cenário tão grande. Mas todos os personagens possuem suas peculiaridades e visto em um contexto geral, cada um tem uma história que faz peso nos conflitos centrais.

Pra falar a verdade, o livro me conquistou por abordar tão bem o quanto deixamos de valorizar as coisas simples. Uma crítica sutil e inteligente à corrida desenfreada por lucro. O romance em si do livro não é dos melhores, não fugindo muito do clichê, com direito a triângulo amoroso estilo novela mexicana.
Então vamos a pergunta principal! Vale a pena a leitura? VALE. Uma excelente crítica à um fato real, combinando ficção e realidade sem parecer fantasioso demais. Um livro curto (190 páginas), sem muita enrolação e bem desenvolvido. Classifiquei como 4 estrelas por pecar um pouco na construção de alguns personagens.