2 de junho de 2013

Entrevista com Salustiano Luiz Souza


Perdidas: Não é comum termos personagens principais negros nos livros. O que motivou você nessa escolha? 

Salustiano: Realmente não é comum, pois ainda vivemos numa sociedade racista e eu não consigo acreditar que um ser humano possa se sentir melhor que outro só porque a cor da pele é branca, negra, ou qualquer outra cor.
Sinto o mesmo em relação à religião, pois muitos acreditam que o Deus deles é melhor que o dos outros.
Eu acredito que somos parte da natureza, parte de uma concepção maior, onde não somos nada diferentes de qualquer outro ser, animal ou planta, feitos da mesma matéria, feitos da mesma energia. Por isso é muita pretensão e arrogância pretender ser melhor que qualquer outra pessoa.
Eu fiz o Barnes negro justamente para tentar mostrar que somos todos iguais, que temos as mesmas dúvidas e angústias, como qualquer ser humano. Fiz também como uma homenagem à amigos negros que tenho e a personalidades negras do mundo.

Perdidas: Você acredita que em algum lugar do mundo existam pessoas como Barnes? Dispostas a tudo pela imortalidade? 

Salustiano: Infelizmente temos de tudo nesse mundo, tanto coisas boas como coisas más. Então é bem possível sim. As pessoas são muito influenciáveis, e toda hora escutamos casos de pessoas que se matam por medo ou influência de religião, pessoas que cometem atrocidades em nome de Deus, etc. O caso dos atentados mulçumanos é bem típico, pois eles só se matam por acreditar que terão a imortalidade do paraíso, com um monte de virgens e infindáveis regalias.

Fernanda Artesanatos:  Você se identifica com algum personagem do seu livro? 

Salustiano: Posso dizer que me identifico um pouco com Barnes, com suas angústias, com sua procura por respostas, querendo descobrir a razão de estarmos neste mundo, querendo saber de onde viemos e para onde vamos. Só não me identifico na questão de fazer de tudo para ser eterno, na lógica de que os fins justificam os meios.

Perdidas: Houve alguma pesquisa na produção deste livro, ou você já tinha toda a ideia na cabeça e só precisou colocar no papel? 

Salustiano: Confesso que não foi fácil desenvolver este tema, principalmente porque nosso cérebro é uma máquina muito sutil e complexa. Tive de desenvolver muitas pesquisas, tentar entender o funcionamento e anatomia do cérebro e contei com a ajuda de médicos amigos meus, principalmente do Dr. Eduardo Missias, que prefaciou o livro. Também discutia muito com minha esposa, que sempre me deu ótimas ideias, e meus dois filhos. Mas o livro já estava sendo maturado há muito tempo.

Perdidas: Quais autores influenciaram a sua obra? 

Salustiano: Não há um autor específico que influenciou esta obra. Tentei criar uma história um pouco diferente do convencional, mas tentei dar bastante veracidade a ela, por isso pesquisei muito os procedimentos para torna-la bem real. Como sempre gostei de ler, acredito que foi isso que me influenciou.

Perdidas: Você esta trabalhando em algum livro novo? 

Salustiano: Sim, estou escrevendo um novo romance, já passei da metade dele, é algo bem diferente do primeiro livro, não é ficção científica, é um livro com simbolismos (quase no estilo Dan Brown). Está me exigindo muita pesquisa, e como não me dedico integralmente a escrever, pois tenho meu escritório de advocacia, dei-me o prazo até o final deste ano para terminá-lo.

Perdidas: Como advogado e escritor, você acha importante discutir a questão do uso de humanos para experiências científicas, como as conduzidas pelo Dr. Barnes? 

Salustiano: Sim, é uma discussão que tem que ser amplamente debatida, pois hoje temos muito comprometimento da ética nesta discussão e se não cuidarmos poderemos pôr em risco a raça humana. Hoje temos a criação de partes do corpo com células tronco, temos clonagem de seres (e clonagem de humanos escondidas). Saber o limite entre o que é ético e aceitável e o que não é vai ser a grande discussão que nossa raça precisa fazer para se manter como raça humana.

Perdidas:  Você esta lendo algum livro no momento? Qual? 

Salustiano:  Estou lendo O Evangelho Segundo Jesus Cristo de Saramago e pretendo começar a ler O Pacto de Joe Hill, livro que ganhei agora.

Perdidas:  Como surgiu a ideia deste livro? 

Salustiano: A ideia desse livro já me acompanha há muito tempo. Discutia muito com meus filhos e minha esposa e também com meus amigos. Sempre considerei um desperdício você morrer e perder tudo o que se aprendeu, o que se sentiu. Ficava (e ainda fico) imaginando uma forma de se fazer um backup do cérebro, para que outros possam aproveitar seus conhecimentos, suas experiências de vida.

Perdidas:  Se você tivesse que escolher um livro (o seu não vale) que todos deveriam ler antes de morrer, qual seria ele? 

Salustiano: Fica muito complicado eleger um livro só. Existem vários livros que são meus favoritos. Gosto de Saramago, de Morris West, de Hemingway, Konsalink, de Kundera, enfim, querer citar alguns sempre se comete injustiça com os outros. Gosto de autores nacionais também. Não tenho como recomendar um livro que seja imperdível, eu sempre digo que todas as pessoas deveriam ler pelo menos 100 livros na sua vida. Certamente elas veriam o mundo de forma bem diferente.

 E vocês pensam que acabou? Pois o autor mandou um recado especial para as blogueiras e para os leitores do blog Perdidas!

Obrigado Natália pela oportunidade e parabéns pela iniciativa de ajudar a divulgar autores nacionais. Creio que nosso país tem muita carência de leitores, infelizmente não há um incentivo muito grande, por isso iniciativas como a sua merecem serem louvadas.

Para ajudar a divulgar um pouco mais a leitura, criamos uma campanha que para cada 100 pessoas que curtirem a página do facebook, ou compartilharem o booktrailer, um livro é doado para uma escola. Já saíram vários livros e já foram quase 450 curtidas. E agora ao chegar nas 500 curtidas serão doados dois livros.

Obrigado.

Vamos lá galera! Vamos ajudar a campanha!!

10 comentários

  1. Muito boa a entrevista com o autor, apesar de ter a opinião um pouco diferente da dele, eu fiquei curiosa pra ler o livro e conhecer realmente a história. O eterno Barnes com certeza é um livro que aborda alguns temas bem polêmicos.

    Bjok

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  2. Adorei a entrevista, não conhecia o autor, mas adorei conhece-lo e gostaria muito de ler seu livro, e a iniciativa de a cada 100 curtidas um livro é doado a uma escola adorei a ideia muito legal mesmo, pois precisamos incentivar a leitura.

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  3. Amo as entrevistas aqui do perdidas!!
    Também admiro muito o blog pela a iniciativa de incentivo para autores nacionais!!Achei o Salustiano muito inteligente e interessante. E que bela campanha hein!!
    Claro que vou participar!!
    Beijão!!

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  4. Parei a entrevista no meio para pesquisar o autor (infelizmente é verdade quanto à escassez de fomento à literatura nacional) e super me interessei pelo livro e até mesmo pela opinião do autor. Eu não esperava isso. Decidicamente procurarei O Eterno Barnes para ler, parece-me que é mais do que certo que eu faça isso.

    E quanto a primeira questão, é interessante, mas eu honestamente preferiria que não fosse necessário lembrar às pessoas que todos somos iguais, que não houvesse esse tipo de preconceito infrutífero. E é claro, já curti a página no Facebook pra não perder a oportunidade de ajudar alguém! ♥

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  5. Já tinha ouvido falar do autor e gostei bastante da entrevista. Muito legal essa iniciativa de doação de livro, parabéns ao autor por isso. São muito poucos livros nacionais que vejo nas escolas, tirando os clássicos. Acho a iniciativa muito importante pois sou uma utilizadora frequente de bibliotecas publicas e de escolas.

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  6. adorei ler a entrevista e saber mais sobre esse autor que eu não conhecia.

    http://www.lostgirlygirl.com


    bjos

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  7. Sempre uma ótima entrevista e essa não foi diferente. Gostei muito das respostas e ideias do autor.
    Ainda não li o livro, mas li a resenha e achei bastante interessante o assunto.
    Parabéns também pela bela campanha das curtidas!

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  8. Parabéns pela entrevista, fiquei com vontade de conhecer mais o trabalho dele.
    Bacana. (:

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  9. Nossa, que bacana essa entrevista. Mas cara, parando pra pensar agora nessa primeira pergunta é bem verdade, é raro. Eu mesma de tantos que li devo ter visto um ou dois com personagem assim no foco. E era só Brasileiro mesmo...

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  10. Eu já tinha visto alguma coisa sobre o autor mas esse entrevista me fez querer os livros dele. Acho que as pessoas deveriam dar mais valor aos autores nacionais que também são ótimos

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