2 de outubro de 2014

Proibido por Tabitha Suzuma

Autora: Tabitha Suzuma
Editora: Editora Valentina
ISBN: 9788565859363
Ano: 2014
Páginas: 304
Classificação:   
Ela é doce, sensível e extremamente sofrida: tem dezesseis anos, mas a maturidade de uma mulher marcada pelas provações e privações da pobreza, o pulso forte e a têmpera de quem cria os irmãos menores como filhos há anos, e só uma pessoa conhece a mágoa e a abnegação que se escondem por trás de seus tristes olhos azuis. Ele é brilhante, generoso e altamente responsável: tem dezessete anos, mas a fibra e o senso de dever de um pai de família, lutando contra tudo e contra todos para mantê-la unida, e só uma pessoa conhece a grandeza e a força de caráter que se escondem por trás daqueles intensos olhos verdes. Eles são irmão e irmã. Mas será que o mundo receberá de braços abertos aqueles que ousaram violar um de seus mais arraigados tabus? E você, receberia? Com extrema sutileza psicológica e sensibilidade poética, cenas de inesquecível beleza visual e diálogos de porte dramatúrgico, Suzuma tece uma tapeçaria visceralmente humana, fazendo pouco a pouco aflorar dos fios simples do quotidiano um assombroso mito eterno em toda a sua riqueza, mistério e profundidade.

Eu posso afirmar que esse é um dos melhores livros que li esse ano. 
A autora soube explorar um tema extremamente delicado de forma muito sutil e com uma sensibilidade que há muito tempo eu não via em um livro. Fiquei encantada com a forma que ela envolve o leitor nos problemas e no drama dos personagens, fazendo com que você compartilhe a angústia, a raiva e desespero que vão tomando conta de Lochan e Maya à medida que eles se dão conta de que não conseguem ficar separados um do outro, mas que isso é contra a lei. 

Através de uma personagem feminina muito forte, Tabitha consegue trazer o debate do incesto do ponto de vista de quem não acha que haja grandes problemas com esse tipo de relacionamento. Para balancear, temos a atormentado Lochan, que não consegue aceitar o fato de que ele é perdidamente apaixonado pela irmã e que não conseguiria viver sem ela. 

A mãe deles (chega a ser piada chamar essa mulher de mãe...) é uma alcoólatra que nunca deveria ter sido mãe de ninguém. Ela só pensa em sair todas as noites com o namorado, usando vestidos que já não cabem mais nela há muito tempo e não se importa nem um pouco com os filhos. Na verdade, na cabeça dela, eles são a razão do fracasso que é a vida dela, pois se ela não tivesse engravidado, não teria casado com o pai deles (que os abandonou para viver com outra família e simplesmente ignora a existência dos filhos) e ela ainda seria uma mulher linda, solteira e teria tido um rumo muito diferente na vida. 

Com isso, Lochan e Maya é que colocam ordem na casa, levando e buscando as crianças na escola... fazendo as compras no mercado, a comida, brincando com elas, dando banho, arrumando a casa, fazendo a lição de casa com elas e ainda tem que dar conta dos próprios estudos e arrumar um jeito de arrancar dinheiro da mãe quando por um milagre da natureza ela aparece em casa. Do contrário eles não conseguiriam nem pagar as contas e todos iriam parar no olho da rua. Mas vocês pensam que a mãe se importa? Ela passa a semana inteira na casa do namorado rico que não quer saber dos filhos dela e com isso, ela vai se distanciando cada vez mais das crianças. 
A maior preocupação de Lochan e Maya é que o serviço social descubra o abandono da mãe deles e levem as crianças embora, separando a família. Por isso, eles se viram para dar conta de tudo que citei acima e ainda encobrir a mãe. 

Com uma rotina tão puxada, eles não têm tempo para saírem com amigos e conhecer outras pessoas. Eles vivem em função dessa rotina, e em função um do outro como se eles fossem um só. E com isso, um sentimento mais forte que o amor fraterno começa a aflorar neles...

" Ter um relacionamento físico com o próprio irmão? Ninguém faz isso, é nojento, seria o mesmo que namorar Kit. (...) Por que então é tão diferente com Lochan? Mas a resposta é simples: Porque Lochan nunca se pareceu com um irmão." - pag 137

A verdade é que Lochan e Maya nunca se viram como irmãos. Devido a mãe que praticamente os abandonou no mundo logo depois que nasceram, eles tiveram que aprender a se virarem sozinhos, tendo apenas um ao outro para se apoiarem e cuidarem dos três irmãos mais novos. A relação deles sempre foi de igual pra igual, e como "chefes da casa", eles acabaram criando uma relação de pai e mãe com os próprios irmãos. Mas entre eles era como se fossem melhores amigos. 
E vamos falar a verdade... quem aqui já não se apaixonou pelo melhor amigo? Com eles é a mesma coisa, só que por acaso eles acabaram vindo da mesma mãe biológica. (se é que podemos chamar aquilo que eles tem de mãe...) 

"Como o nosso amor pode ser considerado tão horrível, quando não estamos fazendo mal a ninguém?" - pag 131

Até ler este livro eu nunca tinha parado pra pensar mais profundamente sobre esse assunto. Sabe... se eu sou contra esse tipo de relacionamento. Depois dessa leitura, que me abriu os olhos de forma surpreendente, eu tomei um posicionamento. Por isso, eu acho que todos deveriam ler essa história e depois pesquisar mais sobre o assunto. 

Nesse momento, deve ter gente falando: "Mas Natália! Isso é nojento! E os filhos? Eles podem nascer com um problema genético!"
Sim. É verdade. Eles podem. 
Mas se você parar pra pensar bem, antigamente, existiam várias tribos africanas e algumas famílias nobres da sociedade medieval que incentivavam o relacionamento consanguíneo a fim de manter a "pureza" das gerações seguintes. Então, existem milhares de pessoas no mundo que tem um parente que foi gerado dessa forma há décadas atrás. E essa pessoa pode estar caminhando por esse mundo sem nem saber disso, mas de certa forma, ela também é fruto de um incesto. 
Já pararam pra pensar nisso? Vocês conhecem a sua árvore genealógica toda? 

E quanto a questão das doenças genéticas que podem advir desse relacionamento... bem...
Eu vou contar uma coisa para vocês. Eu tenho uma doença genética que caso eu venha a engravidar, meu filho teria mais de 50% de chance de nascer com a minha doença ou coisa pior, como lúpus (que mata!) e vitiligo. 
Mesmo eu falando isso abertamente para todos que me perguntam por quê eu ainda não penso em ter filhos, eu nunca recebi um incentivo a me manter estéril. NUNCA! 
Pelo contrário! Todos me dizem que eu deveria ter filhos, pois eles PODEM vir com a minha doença. Que existe uma chance de eles não terem absolutamente nada. E mesmo que eles tenham a doença, eu não iria abandona-los por causa disso. 

Agora vamos trazer esse pensamento para a realidade de Maya e Lochan. Caso um casal de irmãos viesse a ter um filho, será que essa criança realmente teria muito mais chances de ter uma doença genética do que no meu caso? E convenhamos... as pessoas sabem dessa possibilidade, então, acho pouco provável, que assim como eu, eles fariam uma coisa dessas sem ponderar muitoooooo. 

O que eu percebi, através da leitura desse livro, é que é muito injusto você condenar esse tipo de amor só por convenções que a sociedade adotou há anos atrás. Por que se a questão fosse realmente uma questão médica, eu e outras pessoas que sofrem do mesmo problema (como quem tem Síndrome de Down por exemplo) deveríamos ser impedidos de ter filhos também. Tô falando alguma besteira? 

Nesse momento vem outro argumento comum: "Mas você teria coragem de dar uns pegas no seu irmão?!" 
Não. Meu relacionamento com meu irmão é uma coisa tipo mãe e filho, sem contar que são muitos anos de diferença. Mas esse não era o caso de Maya e Lochan. E aliás, eu conheço pelo menos um meia dúzia de pessoas que já pegaram as primas. Mas eu nunca vi nenhum deles serem punidos por causa disso. Pelo contrário, normalmente são o centro das atenções nas rodinhas de conversa levando tapinhas nas costas pela conquista...
Então... prima pode? Mas prima também não é considerado um relacionamento consanguíneo? 

Se os dois envolvidos declaram ser consensual e que eles sejam maiores de idade, vocês acham que a sociedade deveria se meter no relacionamento deles? 

Coisas que eram tabu ontem, hoje já são aceitas pela sociedade. Está aí o casamento homossexual pra provar isso. Na Grécia antiga, o relacionamento homossexual era aceito sem problemas, sendo considerado errado ou estranho apenas com o surgimento do cristianismo. Então quem garante que o incesto não esta passando pela mesma sequência de acontecimentos? 
Percebem como esse livro faz você pensar muito a fundo na questão do que é tabu? O que é preconceito? Por que temos esses sentimentos em relação a essas coisas? De onde surgiu os conceitos que nós temos sobre esses assuntos? 

Além de nos fazer pensar, ele nos emociona. Muitoooo! 
Eu tenho ódio de autores que se propõem a debater um tema delicado e que quando vão chegando no final do livro, não conseguem achar um desfecho e optam pelo caminho mais fácil. Eu gosto de ser surpreendida! Chocada! 
E isso aconteceu neste livro. 

Apesar de pressentir como seria o final, eu não podia imaginar que a autora iria escolher aquela justificativa para impor o final que eu já imaginava. Ela não optou pelo mais fácil. Ela optou por reafirmar o lado dela do assunto de forma categórica e trágica, mas fica bem claro o lado da disputa que ela escolheu. E quando um autor tem a coragem de dar a cara a tapa... eu só posso aplaudir. 

Quando terminei esse livro eu fiquei tão envolvida com os sentimentos intensos de Lochan e Maya que eu não conseguia parar de chorar. Eu ia dormir e na cama lembrava de algo do livro e desandava a chorar. 
Por isso, não terminem esse livro em locais públicos para não pagarem mico. É sério.

Se você tiver a oportunidade de ler este livro, por favor.... por favor... por favor... Leia! 
Vá de coração aberto e sem preconceitos que você não irá se arrepender. 

12 comentários

  1. Fiquei muito curiosa... eu quero ler!
    Parece um daqueles livros que você engole da primeira a última página!
    http://senhoritait.blogspot.com.br/

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  2. Natália adorei sua resenha, você argumentou maravilhosamente bem! Acabo que tenho mais ou menos o mesmo pensamento que você, achei ótimo alguém que falasse desse livro sem levar pra parte do "ai que nojo" e sim pra parte do conceito histórico, de outros fatores... Infelizmente não tive a oportunidade de ter esse livro em mãos mas assim que o tiver, com certeza vou ler ele na hora.

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  3. Gostei da sua sensibilidade ao escrever sobre o livro.
    Comecei a lê-lo ontem,e já estou bastante emocionada com a trama.

    É UM LIVRO QUE VALE À PENA!!!!!

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  4. Nossa, mexeu mesmo contigo. Acho a capa dele linda e espero ler em breve.
    Bjs, Rose.

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  5. Ahh, quero muito ler esse livro. Parece ser um livro incrível, e já entrou na minha lista de desejos!

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  6. Quando eu li a sinopse já imaginei que seria mais ou menos esse o tema..
    até o momento que eu me lembre não li nada do tipo.. me parece uma temática delicada
    é o tipo ou você ama ou você odeia a autora.. isso porque já costumamos encarar determinados
    tipos de situações com um pensamento já formado sobre o assunto o que muitas vezes dificulta
    pensarmos de um outro modo..

    eu fiquei bem curiosa.. e pretendo ler o livroo..
    e vou seguir seu conselho.. nada de ler o final em locais públicos..

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  7. Esse livro é, no mínimo, polêmico, Natália!
    Logo que vi do que se tratava, já veio aquela nuvenzinha do pré-conceito no meu ouvido pra me azucrinar. Depois, parando pra pensar, vi que esse meu pensamento não tinha cabimento. Sei que em alguns países essa "prática" é considerada crime, mas percebi que o amor entre irmãos não me afetam em nada. Vi também que eles não estão prejudicando ninguém, então quem sou eu para condenar duas pessoas que se amam?!?! Só posso dizer que quero ler muito em breve.

    @_Dom_Dom

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  8. O que mais me chama atenção nesse livro é esse tema polemico pra caraca... quero muito ler e ver todo esses sentimentos contraditórios me inundar.. tenho certeza que será um livro que irá deixar minha cabeça bem pinel...

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  9. Oi, adorei a sua resenha, abordou tudo aquilo que pretendemos encontrar em leituras como esta, além de nos induzira querer ler esse livro, que creio que seja muito interessante e alem disso nos traz bastante coisas que merecem ser refletidas! Parabéns!

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  10. Tá, vamos por partes que nem serial killer: 1. em todos os momentos que vi esse livro pensei: "será mais um livro romantiquinho, altamente clichê e que eu vou odiar", nem sequer me interessei em ler a sinopse. Resultado da sua resenha: levei um tapa na cara kkkkk
    2. Estou realmente chocada com a escolha do tema do livro, é algo que eu realmente nunca parei para pensar - com exceção de Game of Thrones não lembro de vê-lo em nenhum outro que eu tenha lido.
    3. Embora eu não me considere preconceituosa, acho que cada caso de incesto deve ser estudado separadamente, não se pode dar claramente a opinião sobre algo que se desconhece ou conhece apenas um sentido dela. No caso do livro, que eu ainda não li e estou fazendo conclusões apenas pela resenha, creio que a questão não seja exatamente amorosa, mas sim um certo tipo de trauma psicológico avançado (uma espécie de síndrome, como por exemplo o "complexo de édipo").
    4. Fiquei bem curiosa com o livro. Se vou lê-lo? Sim rs
    5. Parabéns pela resenha!!! Me fez pensar bastante kkkkk

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  11. Estou louca pra ler esse livro, sua resenha me deixou ainda mais interessada nele justamente por tratar de um tema tabu e me deixar super curiosa pro desfecho dele! É a primeira resenha dele que realmente leio tudo e achei a historia polêmica bastante interessante, ele já tinha chamado minha atenção por causa da capa que é incrível e agora fiquei ainda mais curiosa.

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  12. Oi Nah,
    Sinceramente tô emocionada com a resenha, vou me preparar bastante para o livro.
    E realmente faz a gente pensar um pouquinho mais sobre da onde veio esses conceitos do que é proibido ou não? O que pode ou não pode? Pq?...
    Proibido não veio só com um historia bobinha entre irmãos, veio pra causar, refletir, e emocionar com um tema tão fantástico.
    Bjs

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