29 de maio de 2015

Perdidas News em Luto: Livraria Leonardo da Vinci fechará as portas

Se você é do Rio de Janeiro já deve ter ouvido falar da mais tradicional livraria da cidade: A Livraria Leonardo da Vinci. 


Fundada em 1952 pelo romeno Andrei Duchiade, em seus 63 anos de funcionamento a livraria sempre foi reduto de intelectuais e estudantes que procuravam obras raras, livros importados e de arte. Porém, a Leonardo da Vinci anunciou ontem que irá encerrar suas atividades este ano. Segundo a filha de Andrei - Milena Duchiade - que desde a morte do pai gerencia o negócio da família junto com a mãe, o modelo de negócio da Da Vinci não se mantém mais. Nos primeiros anos, a loja vendia apenas livros franceses. Mais tarde passou a importar também de outros países europeus e dos Estados Unidos. Com o tempo, passou a oferecer também obras brasileiras, e em 2004, inaugurou uma filial, a Piccola Da Vinci, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Outra inovação foi a abertura do Baú do Leonardo, uma seção de pontas de estoque e livros usados, que serve também para exposições.

O público da Da Vinci sempre foi um público muito diferenciado. Ao visitar a livraria, o que fiz algumas vezes a procura de livros em italiano para meu curso, nota-se que eles não dispõem de uma vitrine recheada com os best sellers do momento. Eles sempre atenderam um nicho de leitores. Isso não quer dizer que não exista o best seller na livraria, só que nunca foi o foco deles.

– Teimosia tem limite. Nosso modelo de negócio é inviável. Nós estamos sendo punidos por nossas qualidades. Nossas virtudes tornaram-se defeitos. Não temos um café, não vendemos papelaria, nem informática. Vendemos pouca autoajuda e poucos best-sellers. Temos um nicho, muito específico, que está sob pressão – disse Milena

É lamentável o encerramento das atividades desta livraria, mas não é pelo fato de ser mais uma que não consegue aguentar a competição com o mercado de vendas online. É lamentável pois estamos perdendo parte da nossa história.

Esta livraria seria considerada patrimônio histórico facilmente. Primeiro porque Carlos Drummond de Andrade homenageou a loja com versos, no livro "As impurezas do branco" de 1973. Em seus versos,  Drummond descrevem o caminho para chegar à livraria ("Ao termo da espiral/que disfarça o caminho/com espadanas de fonte,/e ao peso do concreto/de vinte pavimentos") e celebram a atmosfera do lugar ("A vida chega aqui/filtrada em pensamento/que não fere; no enlevo/tátil-visual de idéias")

Para vocês terem ideia, ainda é possível encontrar livros raríssimos, como a coleção de O Inferno de Dante em Italiano de 1949 (que eu vou correndo comprar assim que terminar esse texto, pois nunca mais na minha vida acho que irei conseguir encontrar isso!) e livros tão antigos que o preço original era cotado em pesetas espanholas e francos, por exemplo.
o.O

Isso sem contar nos milhares de intelectuais que passearam pelos corredores da Da Vinci e que marcaram a história do Rio de Janeiro e do Brasil...

Sabe quando nós vamos encontrar esses livros novamente? Nunca!!!!!

No dia 01/06, a livraria fará uma mega liquidação a fim de acabar com os estoques e assim diminuir os prejuízos. Eu, obviamente, estarei plantada na porta e tentarei salvar o máximo de raridades possíveis, mas...vai doer muito entrar pela última vez nessa livraria...

Minha única fagulha de esperança é que a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro receba alguns desses livros raros, mas mesmo assim eu acho muito difícil que isso aconteça. Na verdade, eu duvido muito que alguém da livraria tenha pensando nisso... Como eu disse, é uma fagulha de esperança, e a esperança é a última que morre, né?

OBS: Onde eu vou encontrar livros em italiano agora gente?! E francês?!

Adeus Da Vinci...



6 comentários

  1. Olá, Natália.
    Uma notícia triste, sem dúvidas. É triste saber que um antro cultural será fechado e que não há qualquer outro lugar que possa suprir o seu papel na sociedade aqui do RJ. O governo poderia tirar parte dos milhões do Carnaval, dos bilhões da Olimpíada e socorrer a livraria, tornando-a novamente rentável. Mas enfim...
    Enquanto Drummond for lido, a livraria também será eterna.

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  2. Oi Nat! É triste saber que livrarias que tem tantas grandes obras assim estão se fechando. Livrarias que são verdadeiros patrimônios culturais. E muitas vezes por falta de interesse das pessoas ou por falta de disponibilidade de livros estrangeiros que são muito falados hoje em dia, os best-sellers como a Milena falou.
    Mais uma porta que se fechou para tantos mundos diferentes...
    Abraços!

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  3. Não conheço a livraria, mas fico triste ao saber da notícia, pois vai ser menos um lugar de divulgação de livros.

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  4. Realmente muito triste isso. Não só por ser uma livraria especializada, algo que me parece tão necessário, mas por ser um marco cultural. Não sou do Rio e nem conheço a livraria, mas lendo os comentários de quem conhece fica claro o valor do lugar. Infelizmente o mercado online tem derrotado muitas livrarias físicas sejam elas especializadas ou não. Apesar de quase todos gostarem do ambiente, o fator preço, principalmente aqui no nosso país já pouco letrado - e em crise - é de suma importância aos leitores. Então fica mesmo complicado manter um negócio nesses termos.

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  5. Eita Natália!
    Bem triste mesmo ver uma livraria tão antiga, especializada e com tantos nomes e títulos raros acabar dessa forma.
    Inconformável!
    Espero que consiga os títulos que deseja.
    A modernidade por vezes é cruel.
    “Os homens não desejam aquilo que fazem, mas os objetivos que os levam a fazer aquilo que fazem.”(Platão)
    Cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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  6. É uma pena que a livraria vá fechar. E eu fui correndo olhar o site para ver, mas como nunca comprei nele e não tem foto, fiquei com receio de comprar. Mas é mesmo uma raridade. 1949, gente. Daria tudo para estar nessa liquidação. Espero que você consiga salvar muitas raridades!

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